quinta-feira, junho 29, 2006
segunda-feira, junho 26, 2006
sábado, junho 24, 2006
chão cor de malva
... a incapacidade de ver a imortalidade do pecado mortal
... a malva conspurcada espalhada pela superfície.
sexta-feira, junho 23, 2006
segunda-feira, junho 19, 2006
o desterrado - "o amor e a morte"
cavo a terra com as garras.
com as pás de metal
removo o chão.
toco as mãos frias e débeis,
intactas.
descubro os braços.
descubro o desejo.
desenterro os sonhos
que permaneceram intactos
as minhas mãos tocam
o corpo frio,
coberto por pedaços de terra ainda húmida.
o meu peito quente envolve o peito imóvel
que os braços apertam e a pele sente.
terra que suja a vida.
chão que encerra a morte.
sexta-feira, junho 16, 2006
MICROCEPHALUS
A organização micro encefálica lidera o processo.
Os galináceos habitam a terra e prometem um mundo moderno.
O vírus Influenza influencia a micro cefaleia e traz a mais longa revolução.
De ora em diante teremos um planeta cheio de penas pavoneadas.
terça-feira, junho 13, 2006
as realidades definíveis
a vontade de esgaravatar as entranhas
encostar a língua á morte por dentro da pele
experimentar o sabor da matéria viscosa entre os dentes
ter-te para sempre na minha mesa de autópsias
estripar-te
dentro e fora de ti
imóvel, estanque, impenetrável, insondável
Um dia perdi - depois de Alice
sábado, junho 10, 2006
quarta-feira, junho 07, 2006
esgar abortivo
o cunho uterino com que entrego as palavras,
todas as palavras,
até mesmo as palavras que estabelecem a essência,
é existente em mim desde a origem.
é imensamente cruel o choro dos que nunca choraram.
a vida dói de repente e num impulso se apaga
onde já não há prazo sequer para chorar.
entre a vida e a morte há uma fuga de interjeições desconexas.
removo as entranhas e perscruto o feto fétido que me habita o útero – é um hábito taciturno que me preenche o espírito.
removo-lhe as carnes putrefactas para que novas ressurjam
e assim será como tem sido ao longo dos séculos.
sábado, junho 03, 2006
prece
o corpo já consumido encostado à parede gelada
não consigo gritar porque me retiraram as cordas vocais e um pedaço de carne à volta da boca
sinto o frio congelar-me os dentes encostados à parede gelada
a tarde morre pelos gritos imperceptíveis
senta-te perto de mim sem que eu te veja e não me olhes
não sinto a carne à volta da boca
senta-te mais perto sem que eu te possa ouvir
olho para alem da parede gelada
olha comigo para além da parede gelada
troca esta parede por uma teia orgânica
e deixa-me sentir pela última vez o teu calor neste frio glacial
sexta-feira, junho 02, 2006
penis - funiculos spermaticus
repugnante
suspeito que a solidão se fará acompanhar até ao fim
por pedaços de sangue sob a minha boca enquanto rastejo sobre o mel da morte
e bebo
e amo
nómadas permaneceremos para lá do sémen
tu imundo de mim
eu imunda de ti
não reproduziremos mais os trejeitos corroídos
mas
através dos mundos voltaremos
inteiros
ao nada primitivo
agasalho
o que te posso ainda dizer – se ainda me podes ouvir – é que te rasgo a pele do corpo onde te escondes
a realidade vazou os olhos das crianças
tudo apodrece
rasgo-te para que nada percebas
trago-te para dentro do meu útero velho para que não saibas que a vida se enterra no excremento do tempo
as moscas sobrevoam as cabeças dos vivos
por isso te deixo assim sem pele
podes dizer que tens sorte
sento-me ao teu lado a reter-te na retina, a calcinar-te na memória
infértil moradia onde os corvos se alimentam
permanecerei imóvel sobre a parte mais triste do meu corpo
a alimentar-te com o meu sangue
a enxugar os espasmos oleosos das tuas lágrimas
e a ver-te partir devagar
aqui onde abrigarei a aureola imatura da tua ausência
os intocáveis
os nados mortos caiem no asfalto
cuspidos pela vulva infecta
a carne crua devorada pelos vermes
a carne crua carcomida pelo pó
e os nados mortos ainda caiem no asfalto
cuspidos pelas vulvas anónimas
os nados caiem mortos