sábado, junho 03, 2006

prece

a tarde envelhece amortecida pelos meus gritos surdos
o corpo já consumido encostado à parede gelada

não consigo gritar porque me retiraram as cordas vocais e um pedaço de carne à volta da boca

sinto o frio congelar-me os dentes encostados à parede gelada
a tarde morre pelos gritos imperceptíveis

senta-te perto de mim sem que eu te veja e não me olhes
não sinto a carne à volta da boca
senta-te mais perto sem que eu te possa ouvir

olho para alem da parede gelada
olha comigo para além da parede gelada
troca esta parede por uma teia orgânica
e deixa-me sentir pela última vez o teu calor neste frio glacial

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