o que te posso ainda dizer – se ainda me podes ouvir – é que te rasgo a pele do corpo onde te escondes
a realidade vazou os olhos das crianças
tudo apodrece
rasgo-te para que nada percebas
trago-te para dentro do meu útero velho para que não saibas que a vida se enterra no excremento do tempo
as moscas sobrevoam as cabeças dos vivos
por isso te deixo assim sem pele
podes dizer que tens sorte
sento-me ao teu lado a reter-te na retina, a calcinar-te na memória
infértil moradia onde os corvos se alimentam
permanecerei imóvel sobre a parte mais triste do meu corpo
a alimentar-te com o meu sangue
a enxugar os espasmos oleosos das tuas lágrimas
e a ver-te partir devagar
aqui onde abrigarei a aureola imatura da tua ausência
Sem comentários:
Enviar um comentário