sexta-feira, dezembro 29, 2006

[morre lentamente]

A Moeda Falsa de Maximo Gorki
Encenação de Rui Madeira
Produção CTB


Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...


domingo, dezembro 03, 2006

[...Só mente quem conhece a verdade...]


Falar Verdade a Mentir de Almeida Garrett
Encenação de José Ananias
Produção CTB

Falar Verdade a Mentir de Almeida Garrett
Encenação de Rui Madeira
Produção CTB

sexta-feira, novembro 17, 2006

[ TER OU NÃO TER ]
quem nos ame
A Moeda Falsa de Maximo Gorki
Encenação de Rui Madeira
Produção CTB

quarta-feira, novembro 08, 2006

...QUANDO O PASSADO CORRÓI AS VÍSCERAS...
Antes da Reforma de Thomas Bernhard
Encenação de Rui madeira
Produção CTB

quarta-feira, novembro 01, 2006

[ o vão de escada das emoções ]
A Moeda Falsa de Maximo Gorki
Encenação de Rui Madeira
Produção CTB

quinta-feira, outubro 19, 2006

[FALL IN LOVE OR LIVE IN LIE]


A Gaivota de Tchekov
Encenação Rui Madeira
Produção CTB

sexta-feira, outubro 13, 2006

subir à existência de 1 inferno

1 Inferno de Steven Berkoff

encenação Fernando Candeias
produção CTB

quarta-feira, outubro 11, 2006

ESTE TEXTO É DE GÉNIO


[ bukowsky é engatado por uma tipa orgânica, do tipo peludo, amante de vinho barato e poesia... miller paga a uma prostituta chinesa, do tipo franzino... usa uma pedra de jade à cintura, segura por uma pequena fita verde... faz-lhe o jantar... burroughs é comido por trás, por um miúdo árabe de 15 anos... dotado... kerouac fode a sua beleza negra, de uma forma automática, arrependida... vian fode, não pensa muito nisso, fode apenas... al berto enche-se de coca e esperma, é surpreendido por uma luminosidade improvável... von gotha imagina e faz sonhar, desenha, concretiza, caixas húmidas, perversão... manara segue linhas suaves, perfeitas, corpos impossíveis... ]

terça-feira, outubro 10, 2006

As meninas da Mme Hogges

LUX IN TENEBRIS

Bertolt Brecht - Companhia de Teatro de Braga

[ Em 1996, Jorge Palma musicou poemas de Regina Guimarães, integrados na peça de Bertolt Brecht "Lux in Tenebris" - levada à cena pela Companhia de Teatro de Braga ]

sexta-feira, setembro 29, 2006

O BLOG TERMINA AQUI
NERVUS LINGUALIS

sexta-feira, setembro 22, 2006

a t r o c i o u s a t t a c h


a t r o c i o u s a t t a c h

quinta-feira, setembro 21, 2006

[ não gosto de pessoas más ]
...um dia vou pintar sobre este tema...

segunda-feira, setembro 18, 2006

actualidades



[absurdemos a vida de leste a oeste]
in livro do desassossego de F.P.

sexta-feira, setembro 15, 2006

A L U C I N A R O C O R P O

quarta-feira, julho 26, 2006

fazer a própria vida

O corpo desfaz-se.
As agulhas.
Os aparelhos.
Os doentes.
Os comprimidos diários.
As batas brancas…dos outros.
Os corredores.
O cheiro dos químicos.
O hospício.
O cheiro da carne.
Os olhos.
O cheiro da cama.
As mãos.
O cheiro do sangue.
Os tubos.
Os ensaios.
O cheiro dos mortos.
A metamorfose.
O cheiro do corpo…a desfazer-se.
A decomposição.
O cheiro a vida.
A morte.

sexta-feira, julho 21, 2006

adeus

babe morreu e eu fiquei no seu lugar

as filhas

Egon Schiele, 1914


"o conjunto de todos os
nomes é o nome de
deus, enumeramos o diabo
e as suas questões como
dobra do nosso pecado, e não
desperdiçamos palavra alguma,
somos os mais silenciosos
súbditos, uma oferenda
débil como um peixe
ainda turvo fora de água"

Valter Hugo Mãe in a cobrição das filhas

terça-feira, julho 18, 2006

Animal

Egon Schiele, 1911

«A Ti porém dedico
o motivo da lira que em glóbulos herdei
sangue do teu fabrico parágrafo da cítara
levantada nos cornos do deus que em músical
[compasso
genital
cozeu nos altos-fornos do céu em liberdade
a gélida faiança da imortalidade


do filme em musselina das sissis
resta uma fímbria esvaída de veados
e bosques que das sombras da opereta
chupam delidos bichosos rebuçados»
Natália Correia in O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro

sexta-feira, julho 14, 2006

Coitus

Egon Schiele, 1915
graphite and gouache on paper
31,6 x 48,8 cm
Leopold Museum, Viena
o odor do prazer misturado nas peles por debaixo das vestes amachucadas
o trejeito repete-se ondulado e sempre novo
é a sina do coito abrupto
o belo da bestialidade humana

quarta-feira, julho 12, 2006

e todas as rosas do mundo


"Na escuridão absoluta, a escuridão absoluta. Na escuridão, o silêncio. O frio. O medo de qualquer coisa desconhecida. E o tempo era o rio lento, negro, frio, que levava consigo o tempo de quem perdeu tudo. Eu sentia que morria devagar.
[...]
Passos pequenos, frágeis. Talvez os passos de uma criança. Talvez os passos de uma menina que caminhasse devagar, escolhendo o seu caminho. Os meus olhos viam. E, entre o fogo, atravessando as chamas, vi o rosto daquela que desaparecera dentro de mim.
[...]
Eu não tinha braços para lhe estender. Eu só tinha os meus olhos para a abraçar. Os nossos olhos eram atravessados pelo corpo fino das chamas que se levantavam no quarto. Ela disse a tua vida foi muito importante. Eu amava-a ainda. Ela disse deste a tua vida para entender que o amor é impossível. O amor é o sangue do sol dentro do sol. Algo dentro de qualquer coisa profunda. Ela disse desta a tua vida para entender que o amor é a solidão. Ela disse estavas certo desde o início, o amor é tudo o que existe.
[...]
Ela olhou muito para mim. Ela era o seu rosto de menina, a sua pele pura. Lembrei-me dos meus dedos sob a água limpa de uma fonte. Ela era a mulher mais bonita do mundo. Ela era a manhã sob o céu a iluminar a claridade. Ela disse amo-te. Ela, o seu rosto puro, diante de mim, as chamas, o fogo, disse amo-te. Como palavras impossíveis e como únicas palavras. Eu sorri tanto. Fui feliz e, nesse momento, morri."

José Luís Peixoto in Uma Casa na Escuridão

terça-feira, julho 11, 2006

Príncipe de Calicatri

"Durante os anos que andou a correr mundo, nunca esperei nem uma carta, nem um telefonema. No entanto, quando o vi entrar no pátio, quando o vi à minha frente, reconheci-o imediatamente e, naquele rosto, reconheci o seu rosto envelhecido de criança. O príncipe de calicatri."

José Luís Peixoto in Uma Casa na Escuridão

sábado, julho 08, 2006

myocardium

o ódio nasce devagar.
fixa-se calmamente e adquire raízes firmes.
a pouco e pouco torna-se um monstro enorme que te devora pelas entranhas.

é um pássaro que entra pela tua janela e vai bicando no teu peito até encontrar um coração.

sexta-feira, julho 07, 2006

ESPECTROS


"Vida significa lutar com os fantasmas no próprio cérebro e coração"
Henrik Ibsen

quarta-feira, julho 05, 2006

pietá


...por um acaso somos mamíferos podendo no entanto ter sido uma outra coisa qualquer...

terça-feira, julho 04, 2006

#3#

ela diz:
“há a possibilidade de reter um pouco de água na boca
uma serpente fogosa amolga a erva interrompendo o monólogo
extinguem-se as estrelas é tarde
a noite consome-se velocíssima"

ele já ali não está
apenas a objectiva da câmara continua a segui-la

a partir de Al Berto

domingo, julho 02, 2006

a flor do mal

olho por dentro dos olhos e vejo sangue
e uma flor que já foi branca

quinta-feira, junho 29, 2006

A pin-up on my bath




...retrato de uma mulher proibida dentro de uma banheira de espuma sem água

segunda-feira, junho 26, 2006

A ALEGRIA E A MÁGOA

por baixo da pele pouco ou nada nos distingue

sábado, junho 24, 2006

chão cor de malva

Foto de Carlos Knorr
O grito da castração dos mortíssimos e dos vivíssimos
... a incapacidade de ver a imortalidade do pecado mortal
... a malva conspurcada espalhada pela superfície.

sexta-feira, junho 23, 2006

Bhagavadgita

jnana-marga
karma-marga
bhakti-marga
satya . a-steya . brahmacharya . a-parigraha

Lingua - Musculus cricoarytenoideus posterior

a secura . a saliva . a sátira

a língua da sorte morta

segunda-feira, junho 19, 2006

o desterrado - "o amor e a morte"

cavo a terra com as garras.
com as pás de metal
removo o chão.
toco as mãos frias e débeis,
intactas.
descubro os braços.
descubro o desejo.
desenterro os sonhos
que permaneceram intactos

as minhas mãos tocam
o corpo frio,
coberto por pedaços de terra ainda húmida.
o meu peito quente envolve o peito imóvel
que os braços apertam e a pele sente.
terra que suja a vida.
chão que encerra a morte.

sexta-feira, junho 16, 2006

MICROCEPHALUS


Há um microcéfalo espetado na consciência colectiva.
A organização micro encefálica lidera o processo.
Os galináceos habitam a terra e prometem um mundo moderno.
O vírus Influenza influencia a micro cefaleia e traz a mais longa revolução.
De ora em diante teremos um planeta cheio de penas pavoneadas.

terça-feira, junho 13, 2006

as realidades definíveis

o sangue na ponta das unhas
a vontade de esgaravatar as entranhas
encostar a língua á morte por dentro da pele
experimentar o sabor da matéria viscosa entre os dentes
ter-te para sempre na minha mesa de autópsias
estripar-te
dentro e fora de ti
imóvel, estanque, impenetrável, insondável

Um dia perdi - depois de Alice


depois de Alice perdi a pessoa mais importante da minha vida...perdi um pedaço de mim

sábado, junho 10, 2006

sequência mortal




o último passo depois do medo
o último passo depois do amor

quarta-feira, junho 07, 2006

esgar abortivo

o cunho uterino com que entrego as palavras,
todas as palavras,
até mesmo as palavras que estabelecem a essência,
é existente em mim desde a origem.

é imensamente cruel o choro dos que nunca choraram.
a vida dói de repente e num impulso se apaga
onde já não há prazo sequer para chorar.

entre a vida e a morte há uma fuga de interjeições desconexas.
removo as entranhas e perscruto o feto fétido que me habita o útero – é um hábito taciturno que me preenche o espírito.
removo-lhe as carnes putrefactas para que novas ressurjam
e assim será como tem sido ao longo dos séculos.

sábado, junho 03, 2006

a crucificação de Madalena




Cristo crucificou Madalena depois de a fornicar violentamente repetidas vezes

prece

a tarde envelhece amortecida pelos meus gritos surdos
o corpo já consumido encostado à parede gelada

não consigo gritar porque me retiraram as cordas vocais e um pedaço de carne à volta da boca

sinto o frio congelar-me os dentes encostados à parede gelada
a tarde morre pelos gritos imperceptíveis

senta-te perto de mim sem que eu te veja e não me olhes
não sinto a carne à volta da boca
senta-te mais perto sem que eu te possa ouvir

olho para alem da parede gelada
olha comigo para além da parede gelada
troca esta parede por uma teia orgânica
e deixa-me sentir pela última vez o teu calor neste frio glacial

sexta-feira, junho 02, 2006

penis - funiculos spermaticus


repugnante
suspeito que a solidão se fará acompanhar até ao fim
por pedaços de sangue sob a minha boca enquanto rastejo sobre o mel da morte
e bebo
e amo

nómadas permaneceremos para lá do sémen
tu imundo de mim
eu imunda de ti
não reproduziremos mais os trejeitos corroídos
mas
através dos mundos voltaremos
inteiros
ao nada primitivo

before to be blind

undressed eye
undressed face

agasalho

o que te posso ainda dizer – se ainda me podes ouvir – é que te rasgo a pele do corpo onde te escondes
a realidade vazou os olhos das crianças
tudo apodrece
rasgo-te para que nada percebas

trago-te para dentro do meu útero velho para que não saibas que a vida se enterra no excremento do tempo

as moscas sobrevoam as cabeças dos vivos
por isso te deixo assim sem pele
podes dizer que tens sorte

sento-me ao teu lado a reter-te na retina, a calcinar-te na memória

infértil moradia onde os corvos se alimentam

permanecerei imóvel sobre a parte mais triste do meu corpo
a alimentar-te com o meu sangue
a enxugar os espasmos oleosos das tuas lágrimas
e a ver-te partir devagar

aqui onde abrigarei a aureola imatura da tua ausência

cáustica . devastadora . erosiva


o passo é lento
ouvem-se os murmúrios secos da multidão
criaturas sem sexo rezam baixinho
a igualdade penetrável
a igualdade corrosível
a igualdade abjecta

a fome inverte a língua
e lambe a garganta apertada

cáustica . devastadora . erosiva

fetus

rogatória a duas vozes

os intocáveis

nas ruas de Bombaim
os nados mortos caiem no asfalto
cuspidos pela vulva infecta

a carne crua devorada pelos vermes
a carne crua carcomida pelo pó
e os nados mortos ainda caiem no asfalto

cuspidos pelas vulvas anónimas
os nados caiem mortos

quinta-feira, junho 01, 2006

a morte visceral


a morte esgravata a mente
de corpos sem sexo
lambendo nas veias os líquidos corrosivos

a morte a lambuzar com impaciência os rostos inquietos

o resto


"são meus estes ofegantes lírios"
"os dedos correndo sobre a lâmina de vidro quebrado"